
Robert
Todd Carroll

Dicionário
do Cético
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Mesmerizado pelo Magnetismo - Uma
investigação do século 18 do mesmerismo nos mostra
como pensar a respeito dos ímãs terapêuticos do
século 21 de Michael
Shermer
Justiça da Califórnia processa vendedores
de colchonetes magnéticos
de Stephen Barrett, médico.
Colchonete magnético: despertar
desagradável - de Edgar Sanchez - Sac Bee, 30 de julho
de 2002
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magnetoterapia
"Não
conheço nenhum cientista que leve essa alegação a
sério... É mais um modismo passageiro. Eles vêm e
vão, como os braceletes de cobre, cristais e coisas
do tipo, e esse vai passar também" -- Robert Park, da American
Physical Society.
"Os átomos
de ferro de um ímã são comprimidos num estado
sólido, separados por cerca de um átomo uns dos
outros. No sangue, só quatro átomos de ferro são
alocados para cada molécula de hemoglobina, e ficam
separados por distâncias grandes demais para formar
um magneto. Isso pode ser testado facilmente,
espetando-se um dedo e colocando uma gota de sangue
perto de um ímã". --Michael
Shermer*
A magnetoterapia é um tipo de medicina "alternativa"
que alega que os campos magnéticos possuem poderes
curativos. Algumas pessoas afirmam que os ímãs podem
ajudar a curar ossos fraturados mais rapidamente, mas a
maioria dos defensores afirma que servem para aliviar a
dor. A maior parte do respaldo à essa idéia aparece sob
a forma de testemunhos e
relatos, e pode ser atribuída ao "efeito placebo e
outros efeitos que acompanham seu uso" (Livingston
1998). Não há quase nenhum indício científico que
apóie a magnetoterapia. Uma exceção muito divulgada é
um estudo duplo-cego feito no Baylor
College of Medicine, que comparou os efeitos de
ímãs verdadeiros e falsos sobre dores nos joelhos de 50
pacientes pós-pólio. O grupo experimental relatou uma
redução da dor significativamente maior que a do grupo
de controle. Até o momento não foi feita nenhuma
replicação do estudo. (Veja os
comentários de James Livingston sobre esse estudo.)
Um estudo menos divulgado do New
York College of Podiatric Medicine concluiu que os
ímãs não tiveram nenhum efeito na cura de dores no
calcanhar. Durante um período de 4 semanas, 19 pacientes
calçaram uma palmilha moldada contendo uma folha
magnética, enquanto 15 outros usaram o mesmo tipo de
palmilha sem a folha. Em ambos os grupos, 60% dos
participantes relataram melhora.
A despeito de não haver praticamente nenhum teste
científico da magnetoterapia, floresce uma indústria
que produz pulseiras magnéticas, faixas, cintas,
palmilhas, colchões, etc., e atribui poderes milagrosos
a esses produtos. O mercado de ímãs pode estar
movimentando perto de 150 milhões de dólares anualmente
(Collie). (Lerner afirma que as vendas nos EUA chegam
perto da marca de meio bilhão e que a magnetoterapia em
todo o mundo chegue perto do dobro disso). Os ímãs
estão se tornando o brinquedo preferido dos
quiropráticos e outros "especialistas
em dor." Marlynn Chetkof, ex-artesã em
cerâmica, vende os produtos da Russell Biomagnetic e
aconselha que os ímãs são melhores que usar
analgésicos ou conviver com a dor (Collie). Até um
empreiteiro falido chamado Rick Jones tenta ganhar
dinheiro com a atual febre magnética. Criou uma empresa
chamada Optimum Health Technologies, Inc. para
comercializar seu "Magnassager,"
um vibrador manual com ímãs vendido por US$ 489. Jones
afirma que sua invenção "não é apenas mais um
aparelho massageador". Diz que ela utiliza um campo
magnético para auxiliar a circulação do sangue, ao
mesmo tempo que massageia os músculos. Arrecadou US$
300.000 de investidores e empregou tudo no
"desenvolvimento e marketing do produto." Nem
um centavo foi gasto para testar cientificamente o
aparelho antes de levá-lo ao mercado, embora Jones tenha
dado US$ 20.000 a um fisiologista para que o avaliasse,
"a fim de assegurar que não era apenas um brinquedo
inútil" (Kasler).
A alegação de que ímãs ajudam a "fazer o
sangue circular" é comum entre os adeptos da
magnetoterapia, mas não há qualquer indício
científico de que os ímãs tenham qualquer efeito sobre
o sangue. Embora faltem provas de que produzam qualquer
efeito além do placebo, sobram teorias sobre como eles
funcionariam. Algumas afirmam que eles seriam como uma
massagem de shiatsu,
algumas alegam que afetariam o ferro das células
sangüíneas, outras alegam que criariam uma reação
alcalina no organismo (Collie). Bill Roper, chefe da
Magnetherapy, alega que "Ímãs não curam coisa
alguma". Tudo o que fazem é trazer o organismo de
volta ao normal para que o processo de cura possa
iniciar-se" (Collie). Não é esclarecido como ele
sabe disso.
Alguns defensores da magnetoterapia parecem basear
suas crenças numa presunção metafísica de que todas
as doenças se devam a algum tipo de desequilíbrio ou
desarmonia energética. O equilíbrio ou o fluxo da
energia eletromagnética devem ser restabelecidos para
que a saúde seja restaurada, e acreditam que os ímãs
sejam capazes de fazê-lo. *
Os defensores mais entusiasmados da magnetoterapia
são atletas como Jim Colbert e John Huston (golfe), Dan
Marino (futebol americano) e Lindsay Davenport (tênis).
Sua crença se baseia em pouco mais que raciocínio post hoc. É possível
que o alívio que um cinturão magnético proporciona a
um golfista com problemas na coluna, no entanto, não
seja simplesmente função do efeito
placebo ou da falácia
regressiva. Pode muito bem dever-se à sustentação
ou ao acréscimo de calor que o cinturão proporciona. É
possível que o produto funcionasse igualmente bem sem os
ímãs. No entanto, os atletas não são mais inclinados
aos testes científicos que os fabricantes de
quinquilharias magnéticas.
Os atletas não são os únicos seduzidos pelo poder
curativo dos ímãs. O Dr. Richard Rogachefsky,
cirurgião ortopédico da Universidade de Miami, afirma
ter usado ímãs em cerca de 600 pacientes, inclusive vítimas
de tiros. Diz que eles "aceleram o processo de
cura". Quais as provas que apresenta? Ele é capaz
de determinar examinando as chapas de raios X. O Dr.
William Jarvis é cético. Afirma que "Qualquer
médico que confie em impressões clínicas, naquilo que
pensa ver, é um tolo" (Collie). Há uma boa razão
para que os cientistas usem estudos
controlados duplo-cegos para testar eficácia causal:
evitar o auto-engano.
Enquanto as vendas de produtos magnéticos continuam
crescendo, existem poucos estudos científicos em
andamento. A Universidade de Virgínia está testando
ímãs em pessoas que sofrem de fibromialgia. As
universidades de Miami e Kentucky estão experimentando
ímãs em pessoas com síndrome do túnel do carpo
(Collie). Até o presente momento, no entanto, não temos
nenhuma boa razão para acreditar que os ímãs tenham
mais poder curativo que os cristais
ou os braceletes de cobre.
É importante observar que o Dr.
Mark S. George, professor associado de psiquiatria,
neurologia e radiologia da Universidade Médica da
Carolina do Sul, em Charleston, fez um experimento
controlado sobre o uso de ímãs no tratamento da
depressão. No entanto, como estudou apenas doze
pacientes por duas semanas, seus resultados são pouco
significativos, mas trabalhos posteriores nessa área
parecem apoiar a posição do Dr. George de que pulsos
magnéticos podem auxiliar alguns pacientes com
depressão grave. Os tipos de magnetoterapia descritos
acima nada têm em comum com a estimulação magnética
transcraniana repetitiva (rTMS), o uso de fortes pulsos
magnéticos para
tratar a depressão.
Veja verbetes relacionados sobre medicina alternativa, falácia post hoc, e falácia regressiva.
leitura adicional
Sobre rTMS veja
Collie, Ashley Jude. "Let the Force Be With
You," American Way, 15 de março de 1999.
Franklin, Benjamin e Antoine Lavoisier. "Report
of the Commissioners Charged by the King to Examine
Animal Magnetism" (reimpresso numa tradução para o
inglês na Skeptic,
Vol. 4, No. 3). O relatório foi instituído pelo rei
Luís XVI da França, em 1784.
Kasler, Dale. "Inside Business," Sacramento
Bee, 29 de junho de 1998.
Livingston, James D. "Magnetic
Therapy: Plausible Attraction?" Skeptical
Inquirer (julho/agosto de 1998).
Livingston,
James D. Driving Force: The Natural Magic of Magnets (Harvard
University Press, 1997).
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