Terapias Nova Era

"É possivel que a mais importante decisão na história da terapia tenha sido a ideia de que deve ser paga à hora." – Jay Haley


"Para mal da sociedade, há um alarmante laxismo entre os profissionais de saude mental quando se trata de monitorizar, comentar e educar o publico sobre o que é boa terapia, o que é tratamento negligente por profissionais treinados, e o que raia ou é pura charlatanice." –Singer and Lalich, "Crazy" Therapies


Uma psicoterapia é uma técnica de tratamento para desordens mentais e emocionais. Há muitos tipos de psicoterapias. Algumas foram empiricamente testadas e sabe-se serem válidas e efectivas, como a terapia cognitiva. As terapias New Age, contudo, não passam de uma mistura de metafisica, religião e pseudociência. Pode haver desacordo sobre o que é uma terapia de sucesso, mas isso não deve obrigar alguem a acreditar em Deus, reincarnação, raptos por ovnis, possessões, Dores Primais, canalizar, milagres ou outras noções metafisicas, religiosas ou pseudocientificas.

Para descrição de algumas das ultimas terapias New Age devemos ler "Crazy" Therapies por Margaret Thaler Singer e Janja Lalich, ou ver o video de Ofra Bikel, "Divided Memories," em Frontline a 4 de Abril de 1994.

O documentário de Bikel deixa os praticantes mostrar confiadamente os seus absurdos e incompetencia. Terapista atrás de terapista fala livremente de como não estão interessados na verdade, da indiferença que sentem pelas familias que destroem, como catalogam os que questionam os seus métodos como estando "em negação". Paciente após paciente é apresentado como prova do seu sucesso, mas nenhum paciente parece melhor e muitos parecem definitivamente doentes.

Procurar um traço comum nas terapias não é muito dificil, mas a sua flata de sentido não ajuda a posição dos que pensam que essas terapias são cientificas. Um traço comum é a crença de que a pessoas que tem problemas não é a responsável por eles. Outro traço comum é a crença de que a causa do problema está nalgum acontecimento traumático do passado, como ser esfaqueado no estomago numa vida passada ou ter sofrido abuso sexual na infancia, esta sendo a unica explicação para os terapeutas da procura do trauma. O abuso sexual na infancia não é só a unica causa de problemas, de acordo com estes terapeutas, é a causa à volta da qual as sua vidas orbitam. Eles não se incomodam com o facto da maioria dos seus pacientes não se recordarem de nenhum abuso. A terapia de memória reprimida ajuda-os a recordar o trauma. Alguns terapeutas afirmam terem sido eles mesmo abusados; descobrem o seu abuso ao tratar um paciente que recorda o seu. Que um terapeuta injecte os seus problemas no tratamento e considere as crenças sobre uma vida passada do paciente como relevante para a doença torna estas terapias New Age parecerem mais cultos que ciencia.

Outro traço comum é a crença de que o paciente deve descobrir a causa do seu problema em ordem a ser ajudado pelo terapeuta, embora não pareça haver uma ideia clara do que significa ser ajudado pela terapia. O unico traço comum respeitante à cura parece ser que o paciente sabe o que causou o problema. Acreditar saber o que ou quem lhe causou o problema no passado é a cura. A qualidade de vida do paciente, a sua interacção com o social que o envolve, a familia, colegas, etc, é irrelevante. Tendo a confiança do paciente o terapeuta é todo-importante. Para ganhar essa confiança, uma das tácticas comuns aos terapeutas é virar o paciente contra a sua familia. Isso é feito levando o paciente a acreditar que a causa dos seus problemas é um membro ou vários membros da sua familia. A familia não pode ajudar o paciente porque é a causa do problema. Um ou mais membros abusaram do paciente e agora ou mentem ou estão "em negação". Os outros membros ou estão iludidos ou conspiram para proteger os membros maldosos. Claro que esta necessidade do terapeuta ser confiado pelo paciente tem o seu corolário: o paciente põe toda a sua fé no terapeuta. O paciente foi perseguido; o terapeuta é o seu salvador

O traço comum final destas terapias é a falta de interesse na verdade. Nem paciente nem terapeuta estão preocupados com factos ou evidências de que a "causa acreditada" realmente aconteceu. De facto, se a "causa acreditada" é a causa real é irrelevante para a terapia. O paciente cria a verdade e essa é tão real para ele como factos para um céptico. É tudo o que interessa. Todos vivemos numa ilusão, proclama um terapeuta. Portanto, não lhe interessa se a "causa acreditada" é pura ilusão. Qualquer aluno do primeiro ano de psicologia reconhece a projecção nesta afirmação. O espectador, contudo, não precisa de treino para ver que este terapeuta está iludido quando afirma que não induz os pacientes em histórias de abuso ritual pelos pais e avós, adoradores de cultos satânicos. A sua falta de interesse em provas da história, a falta de preocupação a respeito da familia que está a destruir, o afirmar da necessidade de aceitar por fé tudo o que o paciente afirma, o absurdo de levar o paciente a apresentar uma queixa de 20 milhões de dólares contra a familia, a sua afirmação de que consegue dizer na primeira sessão se alguem foi abusado ou não quando criança, tudo somado num pacote terapeutico com uma etiqueta: aldrabice.

A impressão profunda deixada pelo documentário de Bikel é que existe uma quantidade de terapias New Age misturando metafisica, religião e charlatanismo. Não há qualquer interesse em factos ou verdade, e, porque são pseudocientificos, não há modo de testar se são válidos ou não.

A obra de Singer e Lalich "Crazy" Therapies documenta o largo espectro de terapias pseudocientificas populares entre terapeutas New Age. Os autores atribuem parte da popularidade das terapias bizarras ao aumento da irracionalidade e a procura deste tipo de assuntos na televisão, livros, etc. Alguns terapeutas, como Sondra Ray, uma defensora da "terapia do renascer", consideram-se guias espirituais, não cientistas. Orgulham-se da sua falta de suporte cientifico. Alguns afirmam que a doença mental é causada por possessões por entidades espirituais que devem ser aplacados. Outros usam a pregressão a vidas passadas para encontrar a causa do problema. Alguns tratam o rapto por extraterrestres como reais. Existem terapias de catarse como o grito primal, o renascer o tornar a dar á luz. Nenhuma com qualquer validadecientifica. Nenhuma se provou efectiva por qualquer estudo cientifico independente, nem são aceites pela comunidade cientifica. O seu suporte vem das observações dos seus fundadores, e da resposta dos pacientes, que é analisada e avaliada pelos próprios terapeutas. A maioria das terapias revistas por Singer e Lalich não parecem interessados em testar cientificamente as suas teorias, embora pareçam gostar do calão técnico.

É dificil escolher a mais bizarra terapia New Age, mas a Neural Organization Technique (NOT) desenvolvida por Carl Ferreri, é dificil de bater. Ferreri decidiu, sem a minima prova cientifica, que todas os problemas mentais e fisicos se devem a crânios desalinhados. Outros quiropraticantes pensam que é a coluna que está desalinhada e precisa de correção. Ferreri acredita que quando respira, os ossos do seu crânio se movem, provocando deslinhamentos que se podem corrigir por manipulação. A teoria foi posta em prática sem qualquer prova de que os ossos do crânio se movem ou que exista algo como "alinhamento standard" dos ossos do crânio. Ferreri não foi parado pela lógica, mas por processos e queixas-crime.

A lista de "crazy" terapias é demasiado grande para a reproduzir aqui, mas Singer e Thaler descrevem as seguintes:

Leonard Orr desenvolveu a energia de respiração e a teoria do renascer. De acordo com Orr, se aprende a respirar energia, pode inspirar doenças e dores fisicas e emocionais.

Marguerite Sechehaye e John Rosen praticam a teoria da regressão e de tornar a dar à luz. O terapeuta torna-se o pai adoptivo do paciente para compensar o terrivel papel que os verdadeiros pais tiveram.

A teoria de Jacqui Shiff é que o paciente deve usar fraldas, chuchar no dedo e beber de um biberão para ser curado.

Sondra Ray e Bob Mandel acreditam que os seus problemas se devem ao modo como nasceu. Eles vão ajudá-lo a renascer, correctamente desta.

John Fuller, Bruce Goldberg, Brian Weiss, Edith Fiore, Richard Boylan, David Jacobs, Budd Hopkins e  John Mack usam hipnose para descobrir o passado ou as vidas futuras do paciente bem como os seus raptos por extraterrestres, como um passo para o "ajudar".

A teoria de John Bradshaw é que tem uma "criança interior" que deve cuidar, se quer ser saudável.

Arthur Janov pratica a Terapia Primal. De acordo com Janov, o paciente deve libertar-se da Dôr Primal que pode ser erradicada apenas aprendendo o Modo Correcto de Gritar.

O Processo da Nova Identidade (PNI) de Daniel Casriel inclui gritar, o que alegadamente desbloqueia o que está bloqueado. O grito de Casriel é um grito melhor que o de Janov.

Nolan Saltzman pratica a Psicoterapia do Bio Grito. O seu grito é melhor que o de Casriel ou de Janov porque tem mais Amor nele.

Finalmente, existe a hipnoterapia. É extremamente popular e é praticada por milhares de terapeutas que obteem o treino num seminário de fim de semana. Singer e Lalich notam que não há requisitos ou pré-requisitos para o treino, nem organização profissional perante a qual respondam. Pode ser vendedor de carros, professor, cabeleireiro e tambem se pode intitular hipnoterapista pendurando um certificado na parede que afirma que teve um curso de dezoito horas. (p. 53)

Os perigos desta prática são apontados por Martin Orne: "As pistas para o que é esperado pode ser inconscientemente inculcado antes ou durante o processo hipnótico, ou pelo hipnotizador ou por outrém, como por exemplo, um anterior sujeito, uma história, um filme, etc. Mais, a natureza destas pistas podem ser obscuras para o hipnotizador, o sujeito, e mesmo para um observador treinado." (p. 96) Contudo, muitos hipnoterapeutas parecem ignorar esses perigos de usarem a hipnose em sessões terapeuticas.

Muitos terapeutas New Age parecem esquecer factos que qualquer terapeuta toma em atenção. Por exemplo, todos esses terapeutas desenvolvem teorias que excluem a possibilidade de um paciente poder ter um problema fisico. Nenhum paciente está fisicamente doente, Nenhuma desordem mental é bioquimica. Nenhum paciente é responsável pelos seus problemas. É sempre outra coisa ou alguem que tem a culpa. Aparentemente, nenhum paciente mente, engana, distorce, racionaliza, erra, etc. Se um paciente tem uma "falha", é porque não confia em absoluto no seu terapeuta. Seria extraordinário descobrir que pessoas mentalmente perturbadas não teem falhas no seu carácter moral. Contudo, estes defensores destas terapias parecem tratar todos os pacientes como se fossem crianças inocentes, incapazes dos mais pequenos pecadilhos.

A maioria dos terapeutas discutidos por Bikel, Singer e Lalich parecem ignorar o seu papel junto do paciente. Condicionam o paciente, encaminham-no e plantam noções nas suas mentes. Dão-lhes livros e videos, não para ajudar o paciente, mas para inculcar no paciente a crença nessas terapias loucas. Fazem-no durante hipnose, sessões de grupo, etc. E a seguir essas noções são "recuperadas" e oferecidas como validação das suas técnicas terapeuticas e teorias. Em vez de fornecer uma terapia real, estes terapeutas "loucos" mergulham os pacientes nas suas visões do mundo. Isto é pseudociência surrealista no seu pior.

Ver reinforço comunal, hipnose, Carl Jung, regressão a vidas passadas, psicanálise.  


Links

Dawes, Robyn M. House of Cards - Psychology and Psychotherapy Built on Myth, (New York: The Free Press, 1994).

Gold, Mark. The Good News About Depression: Cures and Treatments in the New Age of Psychiatry (Bantam, 1995).

Haley, Jay. "Therapy—A New Phenomenon" em The Power Tactics of Jesus Christ and Other Essays (Rockville, Md.: The Triangle Press, 1986.)

Singer, Margaret Thaler e Janja Lalich. "Crazy" Therapies (San Francisco: Jossey-Bass, Inc., 1996). 

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