Robert
Todd Carroll
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parapsicologia
A parapsicologia é a busca pelos
fenômenos paranormais,
como a percepção extra-sensorial
(PES) e a psicocinese.
A maioria dos cientistas tenta explicar fenômenos
observáveis. A parapsicologia procura observar
fenômenos inexplicáveis.
A metodologia científica desse campo
data ao menos de 1882, com a fundação da Sociedade para
Pesquisas Psíquicas, em Londres. Seus membros buscavam
distinguir os fenômenos paranormais do espiritismo e investigar os
médiuns e suas atividades. A sociedade estudava a psicografia, a levitação, e relatos de
atividades ectoplásmicas e
poltergeists. As
experiências modernas na parapiscologia têm se
concentrado principalmente na PES,
na psicocinese
(influência mental sobre objetos físicos) e na projeção astral (viagem
mental e percepção sem o auxílio do corpo). Tais
experimentos foram dirigidos na Universidade de Duke nos
anos de 1930 por Joseph Banks Rhine (1895-1980), cujos
trabalhos tiveram continuidade no Rhine
Research Center. Também foram conduzidos na
Grã-Bretanha na Sociedade para Pesquisas Psíquicas e em
laboratórios de pesquisas russos. Os norte-americanos Charles Tart e Raymond
Moody, entre muitos outros, continuam a expandir a
obra de Rhine. A CIA e
as forças armadas dos EUA contrataram parapsicólogos
e estudaram supostos paranormais, como Ingo
Swann. Outras pesquisas parapsicológicas
prosseguem em vários locais, entre eles o Laboratório de
Sonhos do Maimonides Hospital, do Brooklyn, Nova York;
a Universidade
de Nevada, em Las Vegas; a Pesquisa de
Anomalias da Escola de Engenharia de Princeton; e a
Universidade de Edimburgo, cujo departamento de
parapsicologia possui a Cátedra Koestler de
Parapsicologia, e publica o European Journal of
Parapsychology. Os parapsicólogos também têm várias
outras publicações. Os pesquisadores do psi
freqüentemente encontram provas da existência deste,
mas um estudo (chamado de VERITAC, nome do computador
utilizado) de um ano de duração, feito pelos
laboratórios da Força Aérea dos Estados Unidos, não
foi capaz de verificar a existência da PES. Alguns
parapsicólogos, como Susan
Blackmore, abandonaram a pesquisa do psi
após anos de insucesso na tentativa de encontrar
qualquer apoio significativo para a existência dos
fenômenos paranormais.
Tradicionalmente, a pesquisa nesta área
tem sido caracterizada pelo engano, pela fraude e pela
incompetência na montagem de experiências adequadamente
controladas e na avaliação de dados estatísticos.
Quando são feitos experimentos adequadamente
controlados, geralmente estes produzem resultados
negativos, ou seja, são incapazes de demonstrar um
único caso claro de poderes psíquicos ou fenômenos
paranormais. Os estudos com resultados positivos são
geralmente explicáveis por probabilidades (espera-se que
periodicamente aconteçam ocorrências incomuns de
"acertos psíquicos"). Mas estudos negativos,
como o realizado por Richard C. Sprinthall and Barry S.
Lubetkin e publicado no Journal of Psychology (vol.
60, pp. 313-18) e que foi cuidadosamente e adequadamente
projetado, são universalmente rejeitados pelos devotos
do psi. Pesquisadores que
alegam ter encontrado resultados positivos muitas vezes
ignoram sistematicamente seus próprios estudos, ou criam
justificativas para o fracasso, quando estes não apóiam
as alegações que defendem. Muitos, senão a maioria dos
pesquisadores do psi, permitem o início opcional e o fim opcional.
Todos os pesquisadores do psi limitam suas
pesquisas à investigação de truques de salão
(adivinhação de um número ou naipe de uma carta de
baralho, ou ao "adivinhe para que eu estou
olhando") e de pessoas que fazem truques de salão.
Muitos são fascinados por números e fazem experiências
com outro tipo de truque, sofisticado com tecnologia. Em
lugar de pedir a pessoas que usem o pensamento para fazer
um semáforo mudar de vermelho para verde, pedem que elas
tentem influenciar geradores de números aleatórios em
computadores. Quando os pesquisadores encontram uma
mínima estranheza estatística, especulam que isso se
deva a poderes paranormais.
Por outro lado, quando parapsicólogos
realmente alegam ter provas de que alguém é um
verdadeiro paranormal, não conseguem fazer com que a
pessoa repita os fantásticos resultados de seus estudos.
Por exemplo, J. B. Rhine afirmou que Hubert Pearce, que
mais tarde tornou-se pastor metodista, teria identificado
corretamente 25 cartas Zener
seguidas, depois de prometer a ele US$ 100 para cada
carta que acertasse. A única outra ocasião em que
Pearce fez uso se seus supostos poderes foi num outro
teste feito por Rhine e J. G. Pratt, outro crente. Rhine
e Pratt não só deixaram de tomar precauções para
garantir que Pearce não trapacearia, como nunca pediram
a ninguém que o testasse independentemente. O resultado
é que muito da literatura sobre o assunto trata de integridade:
céticos propondo que a trapaça era possível e Rhine e
Pratt tomando como ofensa que qualquer pessoa
questionasse sua integridade ou competência, muito menos
a integridade do pesquisado, o Sr. Pearce. Não teria
havido qualquer controvérsia, no entanto, se ele tivesse
sido testado adequadamente, ou por outros que não
tivessem um interesse tão forte na perpetuação da
idéia de que a pesquisa paranormal pudesse um dia
apresentar resultados de algum valor. Não teria havido
nenhuma controvérsia de Pearce tivesse ido adiante e
demonstrado publicamente seus poderes psíquicos. É mais
provável que não tenha demonstrado publicamente esses
poderes porque não possuía nenhum.
Além disso, Pearce não era um mágico
treinado como Uri Geller, outra
testemunha chave da defesa da PES. Geller tem demonstrado
seus poderes para o público: é capaz de entortar
colheres e chaves com a mente, maneira que, na opinião
de James Randi, é a mais
difícil. Randi faz o mesmo truque e demonstra como é
feito. Para que se tenha uma boa idéia do que se faz
passar por pesquisa científica na parapsicologia atual,
sugere-se ler o relato de Randi sobre os estudos feitos
com Geller por Russel Targ e Harold Puthoff [capítulo 7
de Flim-Flam!] ou ler a crítica de Martin Gardner
sobre o livro Mind-Reach, de autoria deles
[capítulo 30 de Science Good Bad and Bogus].
Recentemente, os trabalhos de Charles
Honorton e seus experimentos Ganzfeld
têm sido divulgados como exemplos de estudo científico
correto, de cuja integridade não se pode duvidar.
Talvez. Mas os dados oriundos dessas experiências
ilustram mais um problema de boa parte das pesquisas
parapsicológicas: correlações não definem
causalidade. Encontrar uma correlação que
não corresponda ao que seria previsto pelo acaso não
estabelece um evento causal. Além disso, mesmo se houver
um evento causal, a correlação em si não tem muita
utilidade para se determinar em que ele consiste. O que
se pensa que é uma causa pode ser um efeito. Ou talvez
possa haver um terceiro fator desconhecido que esteja
causando o efeito observado. Ou a correlação pode ser
devida ao acaso, mesmo se for estatisticamente
improvável num determinado sentido. A correlação
aparente pode ser na verdade estatisticamente provável
no conjunto. Assim, o fato de que um grupo de pessoas
testadas identifique corretamente numa taxa de 0,36 qual
entre quatro imagens uma outra pessoa visualizou, quando
as probabilidades preveriam 0,25, não estabelece um
evento causal. Nem, é claro, estabelece a PES como
causa, se é que existe uma causa. O evento pode muito
bem ser causal, mas a causa real pode ser bastante comum,
como fraude, pistas não intencionais, ou alguma
tendenciosidade em relação aos temas selecionados por
acaso. Se outros pesquisadores puderem duplicar os
resultados com testes mais e mais rigorosos, tornar-se-á
então altamente provável que estejam sendo medidos
eventos causais. Assim, o problema será encontrar a
causa. Talvez se descubra que trata-se de uma força
psíquica até então não detectada pela física, mas
isso parece improvável. Do ponto de vista da física,
parece haver um grande problema com o pressuposto, e
alegada descoberta, de alguns parapsicólogos de que a
distância espacial é irrelevante para o exercício da
PES. Cada uma das quatro forças conhecidas na
natureza enfraquece com a distância. Assim, como disse
Einstein numa carta ao Dr. Jan Ehrenwald, "Isso
sugere... uma indicação muito forte de que uma fonte
não identificada de erros sistemáticos pode estar
envolvida [nesses experimentos de PES]" (Gardner
1981, 153). O cético prefere acreditar que a PES não
exista do que acreditar que exista uma força muito forte
e poderosa mas indetectável, quando é possível
detectar o que seria uma força muito mais fraca, a
gravidade, sem qualquer problema.
Uma coisa que a maioria dos defensores do
psi possuem em comum é a fé. Ela por si só
explica por que buscam e fornecem calhamaços de dados
experimentais para apoiar suas alegações, mas
desconsideram ou banalizam todos os indícios que mostram
que elas estão equivocadas. Sua fé não é um fideísmo
irracional -- a crença sem consideração, e totalmente
a despeito, das provas. É o tipo de fé controlada que
caracteriza um pouco de crença religiosa. As provas
contam, mas somente se apoiarem suas crenças, caso
contrário não contam. Esse pensamento
seletivo banaliza o conceito de prova e explica, em
parte, por que alguns dos testes experimentais do psi
são inadequadamente projetados, controlados e
ministrados. Explica também por que ocorrem tantas
desculpas e hipóteses ad hoc
para justificar fracassos na confirmação das hipóteses
paranormais.
Veja verbetes relacionados sobre projeção astral, auras, Edgar
Cayce, clariaudição,
clarividência, predisposição para a confirmação,
percepção dermo-óptica, sonhos, funções
humanas extraordinárias, experiência
Ganzfeld, mentalistas,
Raymond Moody, início e fim opcionais, paranormalidade, precognição, psi, insucesso por psi, paranormais, fotografia psíquica, cirurgias mediúnicas, psicocinese, visão remota, retrocognição, falsificação retrospectiva,
sessões espíritas (seance),
shotgunning, Charles Tart, telepatia, e James Van Praagh.
leitura adicional
Alcock,
James E. Science and Supernature: a Critical Appraisal
of Parapsychology (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books,
1990).
Gardner,
Martin. Fads and Fallacies in the Name of Science
(New York: Dover Publications, Inc., 1957), cap. 25.
Gardner,
Martin. Science: Good, Bad and Bogus (Buffalo,
N.Y.: Prometheus Books, 1981), caps. 7, 13, 18, 19, 21,
27 and 31.
Gordon,
Henry. Extrasensory Deception: Esp, Psychics, Shirley
MacLaine, Ghosts, Ufos (Buffalo, NY: Prometheus
Books, 1987).
Frazier,
Kendrick. editor, Science Confronts the Paranormal (Buffalo,
N.Y.: Prometheus Books, 1986).
Frazier,
Kendrick. editor, The Hundredth Monkey and Other
Paradigms of the Paranormal (Buffalo,
N.Y.: Prometheus Books, 1991).
Hansel,
C.E.M. The Search for Psychic Power: ESP and
Parapsychology Revisited (Buffalo, N.Y.: Prometheus
Books, 1989).
Hines,
Terence. Pseudoscience and the Paranormal
(Buffalo, NY: Prometheus Books, 1990).
Hyman,
Ray. The Elusive Quarry : a Scientific Appraisal of
Psychical Research (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books,
1989).
Kurtz,
Paul.editor, A Skeptic's Handbook of Parapsychology
(Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1985).
Randi,
James. Flim-Flam! (Buffalo, New York: Prometheus
Books,1982).
Stein,
Gordon. editor, The Encyclopedia of the Paranormal (Buffalo,
N.Y.: Prometheus Books, 1996).
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